sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Madrugada


As folhas estalam debaixo dos pés, ficou o cheiro a castanha assada que envolve o ar. Embalo, deixo-me ir,levada pela corrente do ar, perdida em sonhos meus que vão ao encontro de quem mora longe. Tomam de assalto divagações do faz de conta pelos sonhos de menina e projectos de mulher. A noite sussurra melodias serenas escancaradas pelo vento vadio, que se espalham na neblina de uma madrugada, que encerra melancolia.
O céu inicia a sua transformação para o milagre de mais um dia, a última estrela guia cai,     lentamente, com a força de já sentir uma saudade mas sempre em extrema liberdade.               Acalento sonhos enquanto caminho em direcção ao amanhecer, com a paixão do anoitecer.
Verto uma lágrima fugitiva e resignada, salgada como o mar, quente como o coração.
Oiço o riso de uma mulher por detrás de uma cortina, o choro lânguido de uma criança que suplica o peito de sua mãe. 
Vislumbro a sombra entre cortada de um barco no meio do nevoeiro, entre a ponte e o cais, quase suspenso, quase imóvel, com alma e sem vida, revestido de uma aura de nostalgia. Tacões irrompem e cortam a réstia do silêncio de uma madrugada que chega ao seu fim, uma capa negra esvoaça e acompanha o ritmo acelerado de quem tem tudo ainda para viver. Suspiro, sinto o orvalho debaixo dos pés, a frescura e a renovação da vida a cada dia, sorrio e continuo o meu caminho, em paz e feliz. 

C.T. 
           




                     
                          

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