As folhas estalam debaixo dos pés, ficou o cheiro a
castanha assada que envolve o ar. Embalo, deixo-me ir,levada pela corrente do
ar, perdida em sonhos meus que vão ao encontro de quem mora longe. Tomam de assalto divagações do faz de conta pelos sonhos de menina e projectos de mulher. A noite sussurra melodias serenas escancaradas pelo vento
vadio, que se espalham na neblina de uma madrugada, que encerra melancolia.
O céu inicia a sua transformação para o milagre de mais um
dia, a última estrela guia cai, lentamente, com a força de
já sentir uma saudade mas sempre em extrema liberdade.
Acalento sonhos enquanto caminho em direcção
ao amanhecer, com a paixão do anoitecer.
Verto uma lágrima fugitiva e resignada, salgada como o mar,
quente como o coração.
Oiço o riso de uma mulher por detrás de uma cortina, o
choro lânguido de uma criança que suplica o peito de sua mãe.
Vislumbro a sombra entre cortada de um barco no meio do
nevoeiro, entre a ponte e o cais, quase suspenso, quase imóvel, com alma e sem
vida, revestido de uma aura de nostalgia. Tacões irrompem e cortam a réstia do silêncio
de uma madrugada que chega ao seu fim, uma capa negra esvoaça e acompanha o
ritmo acelerado de quem tem tudo ainda para viver. Suspiro, sinto o orvalho debaixo dos pés, a frescura e a
renovação da vida a cada dia, sorrio e continuo o meu caminho, em paz e
feliz.
C.T.
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